O pensamento indígena alto rio negrino
O pensamento indígena Alto Rio Negrino é um livro extraordinário, escrito por um especialista extraordinário em culturas e línguas dos povos indígenas da região do Alto Rio Negro, uma das áreas de maior diversidade étnica do mundo. Marcelo Carvalho, missionário evangélico e antropólogo, passou muitos anos trabalhando com os grupos indígenas da região, em especial com o povo Húpd’äh, e adquiriu uma habilidade sem precedentes na língua e nas percepções sobre suas formas de pensar e conceituar a realidade. Marcelo e sua esposa Claudinha começaram o trabalho e sua vida do zero entre o povo Húpd’äh há mais de vinte anos, e aprendendo desde o início, mergulhando no ambiente desconhecido e dando sentido aos padrões e conceitos dos povos indígenas. A espinha dorsal do pensamento indígena é o totemismo — a associação simbólica entre os seres humanos e os espíritos de animais, plantas e outros objetos. O universo Húpd’äh ganha vida por meio das relações totêmicas com o mundo exterior, e se pode entender a lógica de seu pensamento e comportamento (incluindo saudações, despedidas e formas de tratamento) por meio da compreensão dessas relações. Outro componente importante são os ritos de iniciação que sinalizam uma passagem para a idade adulta e o novo estágio nas relações pessoais com o mundo espiritual e físico, para os Húpd’äh e muitos povos indígenas do Alto Rio Negro e além. As proibições de tabus e rituais regem a vida das pessoas, suas práticas sociais e religiosas e seus valores. Sua conceituação do mundo é determinada pelas forças mágicas que controlam, pelo menos em parte, as sociedades indígenas e os princípios de subsistência das pessoas.
O livro é escrito em um estilo acessível e envolvente — algo em que o autor é mestre. Destina-se explicitamente a todos os tipos de leitores: qualquer pessoa interessada em conhecer o modo de pensar dos indígenas e como suas crenças, tradições e atitudes moldam a vida espiritual deles e lhes garantem sua sobrevivência. Os estudiosos de Linguística, Antropologia e Psicologia também terão muito a aprender com o texto. É um baú do tesouro com histórias e tradições dos Húpd’äh e de seus vizinhos. O livro é uma leitura obrigatória para todos os interessados em compreender os padrões de pensamento, as crenças e formas de conceituar a realidade dos povos indígenas da região do Alto Rio Negro e além dela.
Dra. Alexandra Y. Aikhenvald
PhD, Dlitt, FAHA, FQAAS, MAE
Professorial Research Fellow and Australian Laureate Fellow
Consultant OED (South American Indian Languages)
Foundation Director of the Language and Culture Research Centre (formerly at JCU)
http://www.aikhenvaldlinguistics.com/; https://staff-profiles.cqu.edu.au/home/view/25682
- ISBN: 9786588525210
- Acabamento: Brochura
- Páginas: 250
- Edição: 2024
- Autor: Marcelo Carvalho
Compreender os distintos sistemas de pensamento dos povos indígenas brasileiros é um exercício de aproximação, respeito e aprendizado. O livro colabora com esta reflexão de forma profundamente relevante, levando o leitor a caminhar pelas nuances culturais em busca de relacionamentos saudáveis, interação respeitosa e clara comunicação.
Dr. Rev. Ronaldo Lidório
WEC Amazônia e APMT
Coordenador do Planters
Neste trabalho detalhado e accessível, Marcelo Carvalho dá uma verdadeira aula sobre a antropologia do Alto Rio Negro com o propósito de fazer entender melhor a cosmovisão e o modo de pensar dos habitantes indígenas desse pedaço da selva Amazônica. A aula mergulha no totemismo, nos conceitos relacionados a ele, e no que está por trás desse fenômeno. Em primeiro lugar, o leitor é introduzido ao desafio vivido por Marcelo e sua esposa Claudia enquanto eles começam a conviver entre um grupo indígena do Alto Rio Negro. Quando seu trabalho de alfabetização na língua materna deles não obteve os resultados esperados, Marcelo começou a conhecer melhor a mente e pensamento desses indivíduos. Desse processo de investigação nasceu a jornada antropológica narrada nas páginas deste livro.
Depois de relatar a história do totemismo na antropologia, incluindo-se críticas a Lévi-Strauss e outros, ele aplica sua perspectiva aos povos e culturas do Alto Rio Negro. Nessa aplicação ele oferece as ferramentas necessárias para quem quer entender melhor o pensamento e cosmovisão de etnias animistas. O totemismo, mesmo descartado pela antropologia pós-moderna por ser uma narrativa muito universal, ainda pode ser percebido em muitas culturas indígenas como um conceito social usado para organizar a sociedade e relacioná-lo ao mundo e contexto natural. Marcelo demonstra que podem existir aspectos do totemismo nos traços culturais de muitas sociedades mesmo sem a prática do totemismo tradicional. A minha experiência de quase 20 anos convivendo com o povo Mamaindê me mostra que Marcelo tem razão: os elementos do totemismo também podem ser observados dentro da cultura Mamaindê, uma lente que tem me ajudado a entender melhor essa cultura, e outras comunidades parecidas. Cheguei à mesma conclusão do autor: as sociedades indígenas brasileiras não dividem o mundo em dois — físico e metafísico. Para eles, tudo está interligado.
A destinação final da jornada nos leva à percepção de que atrás do totemismo — além dessa maneira de organizar e enxergar a sociedade — está o alicerce de Mana, ou seja, a força geral que dá vida e energia a toda a natureza. Todas as outras camadas de tais culturas são construídas sobre Mana: a maneira de pensar, a crença, os mitos e a organização social. Também de Mana surge o totemismo — incluindo a magia (a pajelança), os tabus, e a atitude fatalista. A potência de Mana nos ajuda a ligar e relacionar todos esses conceitos diferentes e chegar ao entendimento mais profundo e completo dessas sociedades.
Todos os alunos de Antropologia, em especial os desejosos de aprender a aplicar as teorias antropológicas para entender melhor a cosmovisão, o pensamento e os hábitos das comunidades indígenas brasileiras (ou qualquer outra sociedade animista), devem incluir este livro na sua leitura. Merece a sua reflexão.
Dr. David M. Eberhard
SIL
Editor Geral do Ethnologue