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Liturgia do ocaso

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Marca: Editora Monergismo Referência: 390
EAN: 9786561230056
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Um jornalista aguarda, na sala-de-espera da Reitoria, o momento de entrevistar o Magnífico Severiano Colaço, da Universidade de Nutrição. Do vazio do aguardo frustrado o romance se tece, arrecadando o bagaço do que é ouvido, do que se pressente e as sobras do que se sabe de longa data. Nessa colheita lê-se o embate entre o Novo e o Velho, entre os desmandos atuais e a ética de outrora, desta que comparece na agonia dos seus derradeiros estertores.

  • ISBN: 9786561230056
  • Acabamento: Capa dura
  • Páginas: 220
  • Edição: 2024
  • Autor: Francisco J. C. Dantas

I. A MISSÃO

 

1

 

Perdeu o mais interessante dos espetáculos quem quer que não haja passado horas na redação de uma folha carioca.

 

Começo por dar mais abrangência a tal asserto do nosso veraz Agrippino Grieco. De fato, quem visita a redação de qualquer Folha, ainda que bissemanal, pode conferir a correria. Mesmo levando em conta a distância temporal e geográfica — entre o Rio da primeira metade do século XX e a nossa Babilônia regional, arredondando pra meio século depois — bem como as exigências entre uma Folha diária e a outra bissemanal, dias que isso aqui também vira uma doideira. Convenhamos, não estamos no fim do mundo. Nem o nosso Correio Matutino é um esconderijo dos esconsos do país. Exatamente como lá no Rio, aqui também não se respeita domingo, dia santo, feriado. Há gritos e reclamações recíprocas. É uma loucura. Todo dia o bicho pega, solto aos olhos do eventual visitante que perscruta o ambiente, interessado em colher a primeira impressão.

 

A poucos passos da entrada, bate-se logo de cara com a parede direita do vestíbulo, defronte do portal da redação. É bastante chamativa. Arranjada pra conquistar a vista de quem chega. Ao topo, portentosa gravura da primeira imprensa preside o ambiente. Homenagem a Gutemberg. Além do tamanho desmarcado, ganha realce também pela imponência que salta da guarnição do bronze envelhecido e porque, sendo bem centralizada; de ambos os lados, o pano claro das paredes alvas está livre como uma bandeira de paz. Dois palmos abaixo, com distâncias conferidas a esquadro, estende-se o painel da ardósia retangular, presa na moldura envidraçada, onde os colegas em geral, conforme retrate a luz, costumam se mirar. Eventualmente, corrigem a maquiagem, conferem e alinham a postura, dão um toque no cabelo.

 

Peça de gravidade impactante, é preservada como monumento do próprio Correio Matutino. Tem o seu quê de armário, visto que a parte fronteiriça transparente se movimenta por bisagras, e é igualmente chaveada. E destina-se a uma prestância mais sensata do que servir de espelho aos passantes. Evidente. Mesmo porque a nossa rotina de subalternos não comporta essa frescura de se andar tinindo e alinhado.

 

Digamos que a utilidade de tal peça é mais enérgica. Mais pedagógica. (Pois se puser aqui um termo mais descarnado — ave Maria! — o mundo desaba.)

 

Preserva e exibe, no seu recesso trancado, a listagem das matérias pendentes, dos prazos vencidos, ao lado do nome dos respectivos responsáveis que, conforme se subtende, fazem parte de um rodízio. São nomes grafados em traços rubros e grossos, com intenções ostensivas. Em berrante contraste com a sisudez enzinabrada da moldura. Trata-se de um puxão de orelha pra abrir o olho dos colegas que, por isso ou por aquilo, descuram da agenda. E daí que, com os anos, se converteria numa peça odiada.