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E bem quisera que já estivesse em chamas

Marca: Editora Monergismo Referência: 419
EAN: 9786561230193
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Como já havia feito em À sombra da modernidade, seu notável livro de ensaios, Fabrício Tavares de Moraes mostra, em E bem quisera que já estivesse em chamas, sua primeira obra de ficção, a mesma ambição estética e profundidade intelectual que o caracterizam. Aqui, ele se afirma entre os grandes contistas da Weltliteratur, não apenas pelo estilo — denso, robusto, ora maravilhosamente intrincado, ora admiravelmente sombrio —, mas também pela variedade e intensidade dos temas.

O título e a epígrafe, marcas de todo grande escritor que sabe escolher suas chaves de entrada, já antecipam o tom do livro: perplexidade diante da alegria, a presença quase insuportável do mistério em meio ao sofrimento do mundo e, ao mesmo tempo, um chamado à lucidez e à busca por uma verdadeira iluminação.

Os contos não são fáceis… Mas isso é uma virtude. Eles exigem do leitor atenção plena, releituras, anotações à margem, o retorno constante a páginas já percorridas. Pois aqui o autor parece alcançar, consciente ou não, o que se propôs desde a primeira palavra: um chamado à vigilância espiritual, à percepção de que o mundo visível oculta realidades mais profundas — de dor, sim, mas também de redenção.

— Karleno Bocarro, autor de As almas que se quebram no chão

  • ISBN: 9786561230193
  • Acabamento: Brochura
  • Páginas: 138
  • Edição: 2025
  • Autor: Fabrício Tavares de Moraes

Os contos de E bem quisera que já estivesse em chamas têm lugar num mundo em agonia (no sentido etimológico da palavra: em luta). Escovando a contrapelo a língua portuguesa, Fabrício Tavares de Moraes conduz o leitor por gêneros e temas pouco comuns e muito bem-vindos na literatura brasileira contemporânea. Da tradição gótica ao decadentismo, passando pelo realismo português e pela literatura fantástica, as histórias deste volume exploram o espectro que vai do sagrado ao grotesco de uma maneira absolutamente sem par no Brasil de hoje.

— Diogo Rosas G, autor de Até você saber quem é

 

 

Este livro não tem medo de extrapolar a exígua cartilha vocabular atual, recorrendo, comedida e elegantemente, à língua portuguesa, sempre disponível, mas evitada pelos outros de modo higiênico. Apesar de o registro se comportar dentro dos parâmetros modernos da sobriedade, há espaço para o sabor esquecido dos vocábulos. A construção dos contos é segura, alguns flertam com o gótico, como Hic Sunt Dracones, em que a entrega de um automóvel em um povoado sinistro cria uma atmosfera de tensão. Mas, dos textos enfeixados no livro, comentarei um em particular que atesta a qualidade narrativa geral: “Sati”.

O texto encarna as virtudes do escritor e do gênero praticado. A primeira advertência dessa narrativa está no título, lembrando o estado budista da atenção plena. Sob a falsa banalidade dos fatos, o autor quer nos transmitir uma experiência única, prefiro essa palavra à extraordinária. Então, de olhos bem abertos, percorremos os meandros da construção linguística e enxergamos as marcas deixadas pelo contista. Depois disso, descemos à história. O protagonista Ricardo é um caminhoneiro cercado por fatos comuns, mas cifrados, desde o horóscopo cantado pela mulher às atitudes de Carlos, um ex-companheiro de profissão, vivendo, agora, de outros expedientes. Novamente, estamos apoiados nos fios do enredo: um caminho oficial percorrido e outro clandestino, encarnado na dupla de personagens. A mudança de frequência do conto acontece no encontro dos dois, quando Ricardo irá ao hotel onde está hospedado para se trocar, levando um tempo maior que o conveniente nessa toalete visível ao olhos do leitor e indiferente para o amigo, simulando certo comportamento perigoso diante do texto, bem próximo ao sonambulismo de alguns espectadores ao se deparar com a exigência verbal. Soma-se a isso, o carteado de um dos personagens, com parceiros truculentos, em que toda uma psicologia está exposta, apesar da aparente banalidade realista, reforçando a armadilha verbal. Nessa movimentação, somos convidados a observar o estilo sóbrio do contista, o controle do vazio nas entrelinhas, evitando as antíteses comuns à emoção do leitor e chegamos à única chance de iluminação do mistério de “Sati”, mas ela é evitada sagazmente, interrompida pela promessa de um jantar. Lembrando-nos que devemos acender uma fogueira para ver naquela escuridão.

— Mariel Reis, autor de John Fante trabalha no Esquimó

 

Um conto, nas palavras de Julio Cortázar, é “uma síntese viva ao mesmo tempo que uma vida sintetizada, algo assim como um tremor de água dentro de um cristal, uma fugacidade numa permanência”. Desde as primeiras páginas deste volume, percebe-se que Fabrício compreende o que torna um conto verdadeiramente grande. Nada aqui é gratuito; nenhum elemento se encontra por mero ornamento. Privado da cumplicidade do tempo, o contista autêntico recorre à única arma que lhe resta: a profundidade. Os contos dos maus autores, dizia ainda Cortázar, “não passam de tinta sobre o papel, alimento para o esquecimento”. Se me fosse dada a tarefa de classificar os textos reunidos nesta obra, eu os descreveria como exatamente o oposto da sentença do mestre argentino.

— Felipe Sabino, o editor